Método Simplificado
para fazer Circuitos Impressos
A montagem de um circuito eletrônico sobre uma PCI é
obviamente interessante sob o ponto de vista de garantia de
funcionamento. Para a fabricação de um protótipo, no entanto,
enfrenta-se o fato dos fabricantes de PCI trabalharem com uma quantidade
mínima de placas geralmente da ordem de algumas dezenas de unidades. Ou
seja, solicitar a confecção de uma única placa em um prestador de
serviços de confecção de PCI, torna-se inviável pelo custo.
O método descrito na
seqüência permite a fabricação de PCI através de um procedimento
acessível ao hobbista ou estudante de eletrônica.
Apesar de ser possível fabricar placas de "dupla face", o
trabalho será bastante crítico nesse caso. Por esse motivo o método
descrito aqui refere-se a placas "face simples", ou seja, com cobre
presente em apenas uma das superfícies da placa.
Você precisará do
seguintes equipamentos e materiais:
-
Um microcomputador
onde esteja instalado o software EAGLE.
-
Uma impressora tipo
laser, que deve estar ligada ao computador onde está instalado o
software
EAGLE.
-
Um ferro de passar
roupas. É conveniente que este seja do tipo mais simples, sem a
produção de vapor.
-
A placa de circuito
impresso "virgem", previamente cortada nas dimensões desejadas
(pode-se usar placa de "fenolite" ou de "fibra de vidro" com o mesmo
resultado).
-
Uma folha de filme
tipo poliéster, cortada no tamanho A4 ou letter, ou papel tipo glossy paper,
tamanho A4 ou letter.
-
Uma caneta usada para
desenho manual em transparências de retroprojetor. Este tipo de caneta
também é normalmente encontrado em papelarias. Deve ser do tipo
permanente (não lavável) e de preferência de cor preta, com ponta
fina. Se tiver dúvida se a caneta
é do tipo "não lavável", faça um traço em pedaço de papel,
deixe secar e em seguida lave o papel em uma torneira. A
tinta do tipo "lavável" vai ficar manchada e até sair,
enquanto que o traço feito com a tinta "não lavável"
permanecerá no papel.
-
Fita adesiva tipo
"fita crepe" ou "fita tartan".
-
Percloreto de Ferro em
pó. É encontrado em lojas de componentes eletrônicos, pois é o produto
mais usado para a corrosão de placas de circuito impresso. No entanto,
normalmente em lojas de produtos químicos encontra-se também o
produto, por preço bastante inferior aos das lojas de componentes
eletrônicos!
-
Um recipiente plástico
(por exemplo, um balde velho).
-
Um par de luvas de
borracha grossa.
-
Um pedaço de "palha de
aço" fina, do tipo usada para limpar panelas.
-
Detergente de cozinha.
-
Papel-toalha.
-
Água.
Provavelmente a maior
dificuldade para hobbista
de poucos recursos
será ter acesso a uma
impressora tipo Laser. Algumas lojas que prestam serviço de fotocópia
fazem a impressão em impressoras Laser, mediante pagamento por folha
impressa.
Os melhores resultados
são obtidos com a impressão do desenho sobre o filme de poliéster. Este
tipo de filme plástico é usado para desenho de precisão à nanquim e
normalmente é encontrado em papelarias especializadas em material de
desenho de arquitetura. Se você tiver dificuldade em obter esse produto,
uma "dica" é informar-se em gráficas que usam o processo off set para impressão; o filme de poliéster
é usado para a confecção de matrizes para impressão em máquinas off
set, de modo que eles devem saber onde se vende o produto.
A alternativa
ao filme de poliéster é o papel tipo glossy paper, do tipo usado
para a impressão de fotografias em impressoras do tipo jato-de-tinta. É
um papel com uma face brilhante e provavelmente na embalagem virá
escrito que o papel NÃO deve ser usado em impressoras tipo laser.
Está ai o problema: de fato alguns papéis tipo glossy tem uma
espécie de camada plástica superficial que pode se fundir durante o
processo de impressão das impressoras laser, danificando seriamente a
impressora! Eu usei diversas vezes em uma impressora laser
marca HP o papel glossy da marca SISTEM, referência CS
4100, sem problemas. Mas fica aqui o alerta: dependendo do modelo
da impressora laser, o uso de papel tipo glossy para
a impressõa de desenhos pode danificar a impressora!
Primeiro passo: obtenção da
matriz do circuito:
- Após conferir cuidadosamente
o layout no EAGLE, escolha no menu superior a opção
View
e em seguida a opção Display/hide layers.
- No quadro que se abre, onde
estão listadas as "camadas" (Layers),
escolha somente 16-Bottom, 17-Pads, 18-Vias e
20-Dimension, conforme a figura à seguir, e
pressione OK:
- Coloque agora o papel glossy ou o
filme de poliéster na impressora. Se a impressora
laser tiver um controle de intensidade da impressão, escolha a
impressão mais “forte” disponível, ou seja, o modo que faz com que
seja depositada a maior quantidade de toner sobre a
impressão.
- Acione o comando de impressão do EAGLE - Print:
- Verifique, no quadro de opções de impressão
que se abre, que as opções estejam exatamente como na figura acima.
Na sessão Style a opção
Mirror
deve
ester DESLIGADA, e as opções Black e Solid
devem estar LIGADAS.
- Acione o botão
OK; deverá ocorrer a impressão do desenho sobre o filme de
poliéster ou papel glossy. Observar que o desenho das trilhas inferiores do circuito impresso em posição
"invertida", ou seja, como se a imagem das trilhas estivesse sendo
vista no espelho.
- Como o filme
poliéster e o papel glossy são relativamente caros, é conveniente fazer alguns testes
com papel comum, para se adquirir experiência no processo e operação
da impressora laser.
- Com uma tesoura, recorte
cuidadosamente o desenho, deixando-o nas
dimensões da placa de circuito impresso. Tente
não tocar no desenho, pois sempre tem-se um
pouco de suor e gordura nos dedos, que podem
danificar o desenho.
- Guarde a matriz obtida,
enquanto passamos à próxima etapa.
Segundo passo: preparação
da placa de circuito impresso:
- Passe a "palha de
aço" na superfície cobreada da placa de
circuito impresso, até deixa-la bem brilhante.
Evite tocar na superfície de cobre polida, para
não mancha-la novamente, segurando a placa pelas
bordas.
- Lave bem a placa com água e
detergente de cozinha. Seque-a com papel-toalha.
Mantenha sempre a placa sem tocar na superfície
de cobre, manipulando-a pelas bordas.
- Coloque a matriz do circuito
impressa no papel poliéster cuidadosamente sobre
a placa de circuito impresso. A face do papel
onde existe o toner deve estar em
contato com a superfície de cobre. Fixe o
desenho com pequenos pedaços de fita adesiva
tipo "fita crepe" ou "fita
tartan", colados nas bordas do desenho. Não
use fita adesiva transparente, pois esse tipo de
fita irá derreter com o calor!
- Ligue o Ferro de Passar Roupas
e ajuste-o para a máxima temperatura.
- Se o desenho foi impresso sobre o filme de
poliéster, coloque a placa de circuito
impresso sobre uma superfície plana, com o
desenho voltado para baixo.
Use um pedaço de madeira que seja bem plano e
que possa ser ligeiramente "queimado".
Não faça isso sobre a sua mesa favorita, pois o
calor do Ferro de Passar Roupas poderá
danificá-la!
- Se o desenho foi impresso sobre o papel
glossy, o ferro de passar roupas deve ser aplicado
diretamente sobre o papel.
- Pressione e movimente o Ferro de Passar
Roupas sobre a placa, de modo a aquecê-la de
forma uniforme, como se estivesse passando uma roupa. Preste
atenção principalmente nas bordas da placa, onde deve-se pressionar
bastante o ferro de passar roupas sobre a placa.
- Após cerca de 2 minutos, retire o Ferro de Passar
Roupas de cima da placa e desligue-o. Tome
cuidado, pois a placa de circuito impresso
deverá estar bastante quente, podendo queimar os
dedos se for tocada! O filme de poliéster ou o papel glossy
ficará "grudado" na placa, pela ação do calor.
- Espere a placa esfriar
completamente, até que possa tocar na placa sem
queimar-se.
- Vire a placa com o desenho
para cima. Retire os pedaços de fita adesiva que
fixavam o desenho.
- Se a impressão foi feita com o filme
poliéster, retire cuidadosamente o filme da placa, puxando-o delicadamente a
partir de um dos cantos. Você observará que, a
medida que o filme de poliéster vai sendo removido,
o desenho desgruda-se do papel e o toner fica aderido à
face de cobre.
- Se a impressão foi feita com o papel
glossy, coloque a placa com o papel "grudado" de molho em um
recipiente raso cheio de água fria, adicionando algumas gotas de
detergente para lavar louça à água. Após alguns minutos de molho na
água, o papel glossy vai começar a se desmanchar. Passe os
dedos levemente sobre o papel até ele desmanchar totalmente. Sobrará
uma fina camada plástica sobre a face de cobre, que pode ser
removida puxando-a delicadamente a partir de um dos cantos. O
desenho das trilhas feito com o toner fica aderido à
face de cobre da placa.
- É normal que o cobre fique
com a cor alterada, devido ao calor. Isso não
prejudicará de forma alguma a continuidade do
processo.
- Compare o desenho obtido sobre
a superfície de cobre com o layout
original das trilhas no computador. Corrija
eventuais falhas no desenho com a caneta para
retroprojetor.
Terceiro passo: corrosão
da placa:
- Coloque luvas de borracha e
utilize roupas velhas! A solução de Percloreto
de Ferro não é corrosiva se cair acidentalmente
na pele, mas danifica muito as roupas. É
interessante também forrar o local de trabalho
com jornais velhos, para evitar manchas nos
móveis.
- Coloque cerca de um litro de
água no recipiente plástico.
- Despeje o Percloreto de Ferro
em pó lentamente
na água. O produto é altamente higroscópico e
ocorre uma reação de hidratação, que eleva a
temperatura da solução. Por esse motivo o
Percloreto de Ferro deve ser colocado na água
com cuidado e em pequenas quantidades de cada
vez. Jamais adicione água ao Percloreto
de Ferro; faça ao contrário, sempre
colocando o Percloreto de Ferro na água
lentamente.
- A concentração da solução
não é crítica. Cerca de 500g de Percloreto de
Ferro dissolvidos em dois litros de água
permitem a corrosão de placas de circuito
impresso em cerca de 10 minutos. Usando-se uma
concentração maior o tempo diminui, mas é
necessário muito cuidado para que a solução
não corroa as partes protegidas da placa.
- Dissolva bem o Percloreto de
Ferro na água. Não use nenhum objeto metálico
para agitar a solução; caso necessário, mexa
com uma colher plástica descartável, ou com um
bastão de madeira.
- Mergulhe a placa preparada no
item anterior na solução. É conveniente fazer
previamente um orifício na placa e amarrar-se
ali um pedaço de barbante, de modo a se poder
colocar e retirar facilmente a placa na solução
de Percloreto de Ferro.
- Tente manter a placa
totalmente submersa na solução e de
preferência na posição vertical.
Se a placa ficar deitada no fundo do recipiente o
processo de corrosão é mais lento, pois cria-se
uma camada de depósito que prejudica a reação.
- Acompanhe o processo de
corrosão, retirando periodicamente a placa da
solução e verificando as áreas expostas de
cobre.
- Quando notar que todo o cobre
exposto foi retirado, retire a placa da solução
e lave-a com água em abundância.
- A camada de toner
pode ser retirada esfregando-se a placa com um
pedaço de "palha de aço", ou então
com um trapo embebido em álcool, ou ainda com
solvente para tintas.
- A solução de Percloreto de
Ferro pode ser guardada num recipiente plástico
com tampa, para uso em outra ocasião.
Obs.: após ter sido usada muitas vezes, a
solução de Percloreto de Ferro vai se tornando
cada vez menos reativa e adquire uma cor
esverdeada, devido a presença de íons de cobre.
A solução "velha" deve ser armazenada em recipientes
plásticos fechados (por exemplo, garrafas PET) e posteriormente
encaminhadas para um
serviço apropriado de reciclagem. Não jogue a solução usada no
esgoto ou vaso
sanitário do banheiro: além de poluir os cursos de água, se a
tubulação do imóvel for de ferro pode haver corrosão e vazamentos
como conseqüência.
Quarto passo:
finalização:
- Para verificar os lugares dos
furos na placa, é interessante imprimir
novamente o layout das trilhas.
Reproduza o procedimento do Primeiro Passo, sendo
que agora a opção Mirror deve
estar LIGADA e a opção Fill Pads
deve estar DESLIGADA. Acione então o
botão Process Job, obtenha um novo
arquivo Post Script e imprima o
desenho em uma folha de papel comum.
- Dependendo da complexidade do
circuito é suficiente observar a posição dos
furos no desenho e fazer a furaçao da placa.
Para circuitos mais complexos uma sugestã é
recortar o desenho impresso, cola-lo
cuidadosamente sobre a placa e utiliza-lo como
"matriz" da posição dos furos.
- As placas de
"fenolite" podem ser furadas usando-se
um pequeno furador manual, semelhante a um
grampeador de papel, que se encontra à venda em
lojas de componentes eletrônicos. Esse tipo de
furador, no entanto, não pode ser usado
em placas de "fibra de vidro"!
Ocorre que esse outro tipo de placa possui resina
epóxi como elemento-base, com altíssima dureza,
sendo que o furador manual fatalmente irá se
danificar. Nesse caso é necessário fazer a
furação usando-se uma pequena broca de
aço-rápido com 1 mm de diâmetro e uma
furadeira elétrica.
Obs: Na verdade a resina epóxi das placas de
"fibra de vidro" é tão dura que danifica as brocas comuns, de "aço
rápido". O ideal é usar brocas especiais, com pontas de metal duro, mas
além de caras são difíceis de serem encontradas. Normalmente a única
coisa a fazer é usar as brocas comuns de "aço rápido", que depois de
alguns furos ficarão rombas. Uma alternativa são brocas adiamantadas, do
tipo das que
são usadas pelos dentistas, mas também são bastante caras. Uma sugestão
para quem tiver um amigo ou parente dentista é
pedir para ele ou ela guardar as brocas
"velhas"; são inúteis para o trabalho
dentário mas normalmente servem ainda para furar
os nossos circuitos impressos!
- Provavelmente após a
furação da placa será necessário limpa-la
novamente, usando-se água, um pedaço de
"palha de aço" ou detergente. Após a
secagem da placa, pode-se aplicar às trilhas um
"verniz" feito com breu(*) dissolvido
em álcool ou solvente para tintas (thinner
ou aguarás). A proporção usada para
preparação desse "verniz" é de
aproximadamente 100 g de breu para 500 ml de
álcool ou solvente e sua aplicação sobre a
placa de circuito impresso é feita para impedir
a oxidação do cobre exposto. Além disso, esse
"verniz" facilita bastante a aderência
da solda ao cobre. Faça a "pintura" da
placa em local bem ventilado, usando um pequeno
pincel. Deixe o álcool ou solvente
"secar" bem antes de fazer a soldagem
dos componentes.
- Muito bem! sua placa
de circuito impresso está pronta para receber os
componentes!
(*) Breu é uma resina mineral
obtida como subproduto da destilação do petróleo.
Antigamente o breu era muito usado como material de
impermeabilização em construção civil e naval.
Pode-se encontrar breu na forma de pó à venda em lojas
especializadas de tintas para pintura artística.
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